Tempo vivo da memria 3t121b
Fundado no ltimo dia 16 de maro de 2006, o Instituto Histrico Geogrfico de Inhumas compreende dois dos muitos pontos positivos sugeridos por um grupo de intelectuais goianienses (Aidenor Aires, Ivone Silva, Bariane Ortncio, Jos Mendona Teles e Ubirajara Galli) responsveis por estende-lo a Inhumas: a valorizao cultural do interior goiano como forma de descentralizao das aes do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro existente desde o sculo XIX, quando de sua criao por D. Pedro I, e sua posterior instalao em Gois em 1932, e, em segundo, por servir de depositrio cultural enquanto e a preservao e divulgao da cultura regional e local, seja em seu carter cientfico ou no cientfico. Representao que se faz em nvel regional por seu presidente, o escritor Aidenor Aires, e em nvel de Inhumas, o historiador Gleidson de Oliveira Moreira. 6a4r3a

Fundado no ltimo dia 16 de maro de 2006, o Instituto Histrico Geogrfico de Inhumas compreende dois dos muitos pontos positivos sugeridos por um grupo de intelectuais goianienses (Aidenor Aires, Ivone Silva, Bariane Ortncio, Jos Mendona Teles e Ubirajara Galli) responsveis por estende-lo a Inhumas: a valorizao cultural do interior goiano como forma de descentralizao das aes do Instituto Histrico Geogrfico Brasileiro existente desde o sculo XIX, quando de sua criao por D. Pedro I, e sua posterior instalao em Gois em 1932, e, em segundo, por servir de depositrio cultural enquanto e a preservao e divulgao da cultura regional e local, seja em seu carter cientfico ou no cientfico. Representao que se faz em nvel regional por seu presidente, o escritor Aidenor Aires, e em nvel de Inhumas, o historiador Gleidson de Oliveira Moreira.
O gosto do cheiro
Interessa-me mais o prazer que aparece no rosto curioso e sorridente de algum que tira a tampa da a, para ver o que est l dentro. Nossas cozinhas, em nossas fantasias, nada deveriam a ver com estas de hoje, modernas, tudo movido a boto, forno de micro-ondas, adeus aos jogos erticos preliminares de espiar, cheirar, beliscar, provar, perfurar... Tudo rpido, tudo prtico, tudo funcional. Imaginei que quem assim trata a cozinha, no amor deve ser semelhante aos galos e galinhas, quanto mais depressa melhor.
Quero voltar cozinha lenta, ertica, lugar onde a qumica est mais prxima da vida e do prazer, cozinha velha, quem sabe com alguns picums pendurados no teto, testemunhos de que at mesmo as aranhas se sentem bem ali.
Nada melhor que o contraste. A sala de visitas, por exemplo. L na cidade de Gois, faz tempo. Retrato silencioso oval do av, na parede; samambaia no cachep de madeira envernizada; porta-bibels; as cadeiras, encostos verticais, 90 graus, para que ningum se acomodasse; capas brancas engomadas pra que nenhuma cabea brilhantinosa se encostasse; os donos dizendo em silncio est mesmo na hora, enquanto a boca mente dizendo ainda cedo, na hora da partida, junto com as recomendaes Dona Sinh (porque toda famlia tinha de ter uma Sinh). A a porta se fechava, e a vida recomeava, na cozinha...
A porta da rua ficava aberta. Era s ir entrando. Se no encontrasse ningum no tinha importncia, porque em cima do fogo estava a cafeteira de folha de Iai (me na lngua Nag), sempre quente, para quem quisesse. Tomava-se o caf e ia-se embora, havendo recebido o reconforto daquela cozinha vazia e acolhedora. Eu diria que a cozinha o tero da casa: lugar onde a vida cresce e o prazer acontece, quente... Tudo provoca o corpo e sentidos adormecidos acordam. So os cheiros de fumaa, da gordura queimada, do bolo de arroz que cresce no forno, dos temperos que transubstanciam os gostos, profundos dentro do nariz e do crebro, at o lugar onde mora a alma. Os gostos sem fim, nunca iguais, presentes na ponta da colher para a prova, enquanto o ouvido se deixa embalar pelo rudo crespo da fritura e os olhos aprendem a escultura dos gostos e dos odores nas cores que sugerem o prazer...
Cozinha: ali se aprende a vida. como uma escola em que o corpo, obrigado a comer para sobreviver, acaba por descobrir que o prazer vem de contrabando. A pura utilidade alimentar, coisa boa para a sade, pela magia da culinria, se torna arte, brinquedo, fruio, alegria.
Pensei ento se no haveria algo que os professores pudessem aprender com os cozinheiros: que a cozinha fosse a antecmara da sala de aulas, e que os professores tivessem sido antes, pelo menos nas fantasias e nos desejos, mestres-cucas, especialistas, nas pequenas coisas que fazem o corpo sorrir de antecipao. Isto. Uma Filosofia Culinria da Educao. Imaginei que os professores, acostumados a homens ilustres, sem cheiro de cebola na mo, haveriam de se ofender.
Logo me tranqilizei, ouvindo a sabedoria de que: O homem aquilo que ele come, idias claras e distintas podem ser boas para o pensamento, por isso imitar os que preparam as coisas boas ensinam novos sabores...
A primeira lio que no h palavra que possa ensinar o gosto do feijo ou o cheiro do coentro. preciso provar, cheirar, s um pouquinho, e ficar ali, atento, para que o corpo escute a fala silenciosa do gosto e do cheiro. Explicar o gosto, enunciar o cheiro; pra estas coisas a Cincia de nada vale; preciso sapincia, cincia saborosa, para se caminhar na cozinha, este lugar de saber-sabor. Cozinheiro: bruxo, sedutor. — Vamos, prove, veja como est bom... Palavras que no transmitem saber, mas atentam para um sabor. O que importa est para alm da palavra. indizvel. Como ele seria tolo se avaliasse seus alunos por meio de testes de mltipla escolha. assim com a vida inteira, que no pode ser dita, mas apenas sugerida. Lembro-me do mestre Barthes, a quem amo sem ter conhecido, que compreendia que tudo comea nesta relao amorosa, ligeiramente ertica, entre mestre e aprendiz, e que s a que se pode saborear, como numa refeio eucarstica, os pratos que o mestre preparou com a sua prpria carne...
A lio dois que o prazer do gosto e do cheiro no convivem com a barriga cheia. O prazer cresce em meio s pequenas abstenes, s provas que s tocam a lngua... a que o corpo vai se descobrindo como entidade maravilhosamente polimrfica na sua infindvel capacidade para sentir prazeres no pensados. J os estmagos estufados pem fim ao prazer, pedem os digestivos, o sono e a obesidade. Cozinheiros de tropa nada sabem sobre o prazer. A comida se produz s dezenas de quilos. Pouco importa que os corpos sorriam. Comida combustvel. Que os corpos continuem a marchar. Melhor se fossem plulas. Abolio da cozinha, abolio do prazer: pura utilidade, zero de fruio.
— A comida tava boa?
O gosto do cheiro
Por Gleidson de Oliveira Moreira
Interessa-me mais o prazer que aparece no rosto curioso e sorridente de algum que tira a tampa da a, para ver o que est l dentro. Nossas cozinhas, em nossas fantasias, nada deveriam a ver com estas de hoje, modernas, tudo movido a boto, forno de micro-ondas, adeus aos jogos erticos preliminares de espiar, cheirar, beliscar, provar, perfurar... Tudo rpido, tudo prtico, tudo funcional. Imaginei que quem assim trata a cozinha, no amor deve ser semelhante aos galos e galinhas, quanto mais depressa melhor.
Quero voltar cozinha lenta, ertica, lugar onde a qumica est mais prxima da vida e do prazer, cozinha velha, quem sabe com alguns picums pendurados no teto, testemunhos de que at mesmo as aranhas se sentem bem ali.
Nada melhor que o contraste. A sala de visitas, por exemplo. L na cidade de Gois, faz tempo. Retrato silencioso oval do av, na parede; samambaia no cachep de madeira envernizada; porta-bibels; as cadeiras, encostos verticais, 90 graus, para que ningum se acomodasse; capas brancas engomadas pra que nenhuma cabea brilhantinosa se encostasse; os donos dizendo em silncio est mesmo na hora, enquanto a boca mente dizendo ainda cedo, na hora da partida, junto com as recomendaes Dona Sinh (porque toda famlia tinha de ter uma Sinh). A a porta se fechava, e a vida recomeava, na cozinha...
A porta da rua ficava aberta. Era s ir entrando. Se no encontrasse ningum no tinha importncia, porque em cima do fogo estava a cafeteira de folha de Iai (me na lngua Nag), sempre quente, para quem quisesse. Tomava-se o caf e ia-se embora, havendo recebido o reconforto daquela cozinha vazia e acolhedora. Eu diria que a cozinha o tero da casa: lugar onde a vida cresce e o prazer acontece, quente... Tudo provoca o corpo e sentidos adormecidos acordam. So os cheiros de fumaa, da gordura queimada, do bolo de arroz que cresce no forno, dos temperos que transubstanciam os gostos, profundos dentro do nariz e do crebro, at o lugar onde mora a alma. Os gostos sem fim, nunca iguais, presentes na ponta da colher para a prova, enquanto o ouvido se deixa embalar pelo rudo crespo da fritura e os olhos aprendem a escultura dos gostos e dos odores nas cores que sugerem o prazer...
Cozinha: ali se aprende a vida. como uma escola em que o corpo, obrigado a comer para sobreviver, acaba por descobrir que o prazer vem de contrabando. A pura utilidade alimentar, coisa boa para a sade, pela magia da culinria, se torna arte, brinquedo, fruio, alegria.
Pensei ento se no haveria algo que os professores pudessem aprender com os cozinheiros: que a cozinha fosse a antecmara da sala de aulas, e que os professores tivessem sido antes, pelo menos nas fantasias e nos desejos, mestres-cucas, especialistas, nas pequenas coisas que fazem o corpo sorrir de antecipao. Isto. Uma Filosofia Culinria da Educao. Imaginei que os professores, acostumados a homens ilustres, sem cheiro de cebola na mo, haveriam de se ofender.
Logo me tranqilizei, ouvindo a sabedoria de que: O homem aquilo que ele come, idias claras e distintas podem ser boas para o pensamento, por isso imitar os que preparam as coisas boas ensinam novos sabores...
A primeira lio que no h palavra que possa ensinar o gosto do feijo ou o cheiro do coentro. preciso provar, cheirar, s um pouquinho, e ficar ali, atento, para que o corpo escute a fala silenciosa do gosto e do cheiro. Explicar o gosto, enunciar o cheiro; pra estas coisas a Cincia de nada vale; preciso sapincia, cincia saborosa, para se caminhar na cozinha, este lugar de saber-sabor. Cozinheiro: bruxo, sedutor. — Vamos, prove, veja como est bom... Palavras que no transmitem saber, mas atentam para um sabor. O que importa est para alm da palavra. indizvel. Como ele seria tolo se avaliasse seus alunos por meio de testes de mltipla escolha. assim com a vida inteira, que no pode ser dita, mas apenas sugerida. Lembro-me do mestre Barthes, a quem amo sem ter conhecido, que compreendia que tudo comea nesta relao amorosa, ligeiramente ertica, entre mestre e aprendiz, e que s a que se pode saborear, como numa refeio eucarstica, os pratos que o mestre preparou com a sua prpria carne...
A lio dois que o prazer do gosto e do cheiro no convivem com a barriga cheia. O prazer cresce em meio s pequenas abstenes, s provas que s tocam a lngua... a que o corpo vai se descobrindo como entidade maravilhosamente polimrfica na sua infindvel capacidade para sentir prazeres no pensados. J os estmagos estufados pem fim ao prazer, pedem os digestivos, o sono e a obesidade. Cozinheiros de tropa nada sabem sobre o prazer. A comida se produz s dezenas de quilos. Pouco importa que os corpos sorriam. Comida combustvel. Que os corpos continuem a marchar. Melhor se fossem plulas. Abolio da cozinha, abolio do prazer: pura utilidade, zero de fruio.
— A comida tava boa?
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